quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Tomas Tranströmer, o Nobel, pelos vistos visitou o Funchal

Funchal

O restaurante do peixe na praia, uma simples barraca, construída por náufragos.
Muitos, chegados à porta, voltam para trás, mas não assim as rajadas de vento do mar. 
Uma sombra encontra-se num cubículo fumarento e assa dois peixes, segundo uma antiga receita da Atlântida, pequenas explosões de alho.
O óleo flui sobre as rodelas do tomate. Cada dentada diz que o oceano nos quer bem, um zunido das profundezas. 

Ela e eu: olhamos um para o outro. Assim como se trepássemos as agrestes colinas floridas, sem qualquer cansaço. Encontramo-nos do lado dos animais, bem-vindos, não envelhecemos. Mas já suportámos tantas coisas juntos, lembramo-nos disso, horas em que também de pouco ou nada servíamos ( por exemplo, quando esperávamos na bicha para doar o sangue saudável – ele tinha prescrito uma transfusão). Acontecimentos, que nos podiam ter separado, se não nos tivéssemos unido, e acontecimentos que, lado a lado, esquecemos – mas eles não nos esqueceram! 

Eles tornaram-se pedras, pedras claras e escuras, pedras de um mosaico desordenado.
E agora aconteceu: os cacos voam todos na mesma direcção, o mosaico nasce.
Ele espera por nós. Do cimo da parede, ele ilumina o quarto de hotel, um design, violento e doce, talvez um rosto, não nos é possível compreender tudo, mesmo quando tiramos as roupas. 

Ao entardecer, saímos. A poderosa pata, azul escura, da meia ilha jaz, expelida sobre o mar. Embrenhamo-nos na multidão, somos empurrados amigavelmente, suaves controlos, todos falam, fervorosos, na língua estranha. “ um homem não é uma ilha.“ Por meio deles fortalecemo-nos, mas também por meio de nós mesmos. Por meio daquilo que existe em nós e que os outros não conseguem ver. Aquela coisa que só se consegue encontrar a ela própria. O paradoxo interior, a flor da garagem, a válvula contra a boa escuridão. 

Uma bebida que borbulha nos copos vazios. Um altifalante que propaga o silêncio.
Um atalho que, por detrás de cada passo, cresce e cresce. Um livro que só no escuro se consegue ler.
 
Tomas Tranströmer
( Traducão do sueco para alemão por Hans Grössel )
Traducão do alemão para português por Luís Costa 

Tirado daqui

3 comentários:

Teté disse...

Pois, o novo Nobel da Literatura em Portugal é quase um ilustre desconhecido. Também já fui ao Google espreitar alguns poemas dele, mas parece que há poucos traduzidos para português. De qualquer forma, poesia não é a minha praia... :)

Moura Aveirense disse...

Vou ser sincera: os dois poemas que li ("Funchal" e "Lisboa") não me encantaram. Será da tradução?? É que a comparar com alguns poetas portugueses (Nuno Júdice, Ramos Rosa, ..., só para referir poetas vivos - já nem falo de poetas como Pessoa ou Sophia!) confesso que sabe-me a pouco...

Bom fim de semana, Moura Aveirense

Marco Caetano disse...

De facto a poesia também não é a minha praia, mas este prémio desiludiu-me bastante.
São tantos os nomes esquecidos que não vou nomear nenhum, mas também não é necessário por todos nós os conhecemos!

Para o ano há mais...