terça-feira, 29 de maio de 2012

Entrevista a Tiago Salazar

[Escrever e viajar] são ambas paixões-amores antigas e nasceram, disso estou certo, na casa da minha avó materna (a Senhora Maria José de Vessadas Salazar Morão de Campos Garcia). Aprendi a ler e escrever com a minha avó

No mundo dos viajantes, o nome de Tiago Salazar é facilmente reconhecido. Considera-se um autêntico andarilho, tendo palmilhado mais de meia centena de países.
É jornalista há mais de 20 anos, tendo escrito sobre os temas mais diversos e colaborado em jornais como o Diário de Notícias, Expresso e Público, ou em revistas como a Egoísta e Visão & Viagens.
Leitor, escritor, apresentador, cronista, formador, mas acima de tudo viajante inveterado.
«O escritor é sempre um viajante por condição de ofício», conta-nos Tiago. É autor dos livros Viagens Sentimentais (2007), A Casa do Mundo (2008), As Rotas do Sonho (2010) e Endereço Desconhecido (2011), todos publicados pela Oficina do Livro.
Está a trabalhar em dois livros e tem outro finalizado, e por estrear a 2ª série do programa Endereço Desconhecido, na RTP2, do qual é apresentador. 

O primeiro passo está dado. O check-in está feito. Destino: incerto.

Texto: Miguel Pestana
Foto: Eva Houssman
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Tem quatro livros editados e um rol extenso de crónicas publicadas em diversas revistas e jornais. A sua paixão por escrever precedeu à de viajar, ou vice-versa? 
É difícil apontar com exactidão o instante de uma paixão e de outra. Talvez seja um caso uterino (consta que era um bebé mexido...). Posso dizer que são ambas paixões-amores antigas e nasceram, disso estou certo, na casa da minha avó materna (a Senhora Maria José de Vessadas Salazar Morão de Campos Garcia). Aprendi a ler e escrever com a minha avó antes de entrar para a escola primária e talvez pelos primeiros livros lidos - muitos, por ironia do destino, de viagens, como as Viagens de Gullliver - nasceu-me logo o instinto de ir por aí fora. Enquanto não foi possível ir além dos bairros de Alvalade e das Avenidas Novas zarpava em cargueiros e botes de páginas sublimes como as de As Aventuras de um Rapaz nas Florestas do Amazonas ou Três Homens num Bote. Apontam-me hoje, enquanto autor de livros de viagens, uma propensão para a citação (ou deverei antes dizer, excitação), o que só posso tomar num exercício de auto-análise como um terrível mal de juventude, pois nunca me vi em viagem sem um livro nas mãos ou na cabeça. 

O seu último livro Endereço desconhecido foi publicado no Verão passado. Que feedback os leitores têm-lhe transmitido sobre o livro? 
É um livro fora de contexto dos três anteriores que são um misto de reportagem, crónica e narrativa. O Endereço Desconhecido é um conjunto de guiões revistos e aumentados que nasce de uma nova aventura, a de contar histórias para televisão. Digamos que este é outro mundo, onde impera a economia narrativa, a frase curta, directa e informativa, mais distante das minhas simpatias líricas e desabridas. Porque a investigação e os conteúdos reunidos ultrapassaram em larga escala o que foi mostrado na série de 12 episódios (disponível online no site da RTP2, para quem queira conhecer um pouco da História e dos costumes dos membros mais recentes da União Europeia) decidi juntar o material e dar aos meus leitores um outro Tiago, guionista e apresentador de TV. Papel que, de resto, teve continuidade e vai poder ser visto na II série do Endereço Desconhecido, a estrear brevemente na RTP2, esta gravada integralmente no Brasil. 

Qual a temática literária e autores que mais lê?
Sou um leitor errante e prisioneiro da inquietação. Tanto leio ensaios a cheirar a mofo sobre alquimistas da Idade Média como as crónicas do Ricardo Araújo Pereira, do Manuel António Pina e do meu querido amigo Baptista-Bastos; contos avulso de russos e latino-americanos (agora, mesmo aqui ao lado, os Contos Reunidos, de Felisberto Hernández, das últimas edições dadas ao prelo pelo meu estimado amigo e grande editor Marcelo Teixeira). Tagore, Neruda, Unamuno, Zambujal, Ernesto Sampaio, Clarice Lispector, Henri Michaux (do Equador), Manuel da Silva Ramos (o mais original romancista português vivo e bem vivo e mal lido) são companheiros frequentes desta viagem das letras e da vida. À Clarice chamo-lhe Mãe, tanto como chamo Pai ao Tagore. Depois há a literatura de viagens, desde as crónicas do Álvaro Velho ao Mendes Pinto ou o Pêro da Covilhã. O Eça, claro, todo,  do romancista ao cronista, mas mais do que tudo o trota-mundos das Notas Contemporâneas.  

Sobre si, diz que é «o andarilho, ofício nobre a que ninguém reconhece seriedade.» Quer dizer que actualmente ainda existe o estereótipo de que o jornalista que viaja em trabalho, não é levado a sério?
Foi o ilustre galego Camilo José Cela o autor dessa grande máxima profética e intemporal, quando editou a sua demanda de cronista vagabundo e erudito ao serviço de Sua Majestade, el Rey de Espanha. O mesmo autor a dedicar um livro aos inimigos que tanto o ajudaram na carreira, outra frase em que muito me revejo. Vamos lá ver: que jornalista é hoje levado a sério por mais difícil e exigente a sua tarefa? O pivot da TV, o cronista, o repórter, o director da publicação, o freelancer que faz pela vida evitando a corrupção inevitável? Sendo justos com a palavra, em Portugal, o jornalista de viagens é uma raça a par do lince da Malcata - há muitos aspirantes à edição e ao texto, mas jornalistas conheço poucos, e meios onde publicar cada vez menos. É preciso recordar que a escrita de viagens não nasceu com o Gonçalo Cadilhe e tivemos autores extraordinários ao longo da História como o Ramalho Ortigão, o Eça ou o Ferreira de Castro, autores que acasalavam naturalmente os ofícios de escritor e escritor viajante. O escritor é sempre um viajante por condição de ofício.  

Já realizou a sua viagem de sonho ou esta ainda está porvir?
Ainda esta noite fui até Keppler 22b e a noite passada naveguei nos braços da minha mulher que são portos de abrigo e terras-natal. Sonho com a Patagónia, no sentido poético e fatalista do Blaise Cendrars que depois de muito viajar dizia já mais nada lhe convir à sua infinita tristeza. O sonho (em realização) é fazer da viagem (para dentro e para fora) um sentido para a vida. Isso, que dá grandes dores e alegrias, faz-me sentido.  

Viajante inveterado como é o Tiago, com certeza já deve ter ouvido falar no projecto CouchSurfing (CS). Qual a sua opinião sobre o conceito?
Conheço, subscrevo mas ainda não me tornei cliente. O meu amigo Tiago Cação (viajante e couchsurfer) tem até uma cama no seu restaurante da Tocha, o Mestre Zé, o que é levar o conceito à sua máxima potência. Eu sou sobretudo um viajante aburguesado pelas circunstâncias, um repórter de resort que vai optando cada vez mais por deixar que as coisas lhe aconteçam.

O Lado Selvagem (Into the Wild) - um filme de 2007 - aborda a arte de viajar sobre um ângulo muito idealista e estoicamente drástico. Viu o filme? Se sim, qual a sua opinião?
Vi e comovi-me com várias coisas que dão importância a isto de ser Homem, entre elas que ser livre e andar aqui em harmonia (harmonia pelo conflito muitas vezes) dá muito trabalho e pede uma vigilância constante. Um freak não é melhor viajante do que um yuppie apenas porque proclama o grito do tá-se bem. O viajante aqui não é um suicida ou alguém que preferiu atirar-se do abismo em valsa lenta. É uma viagem que procura na viagem o que eu procuro no Soneto do Amor Total (de Vinicius). Morre a sorrir (se bem me lembro) numa espécie de epifania, e se morre envenenado é porque houve um instante de desatenção, mas não porque tenha procurado voluntariamente a sua morte. Procurou, isso sim, uma explicação para os seus limites, como o fez com o corpo, a viagem e a escrita o Mishima até chegar ao harakiri por insolução filosófica. Sei que há a pequena morte depois do orgasmo quando é o orgasmo cósmico, como há a morte depois de uma grande viagem, seja ela para a luz ou a escuridão, o paraíso ou o inferno. Voltamos sempre a renascer numa energia renovada e inteligível (mesmo que viver ultrapasse o entendimento) é o que eu acredito à custa das viagens. É o que leio nesse magnífico filme do meu querido Sean Penn.

O Tiago é formador de cursos de escrita de viagens. Que tipo de público inscreve-se nessas formações?
Dou cursos de História da Literatura e Escrita de Viagens para públicos de todas as idades e formações. Acabo de lançar uma variante infanto-juvenil a partir da Peregrinação e da História Trágico-Marítima. São pessoas apaixonadas por ler e viajar e que não entendem uma sem a outra. Os cursos atravessam 500 anos de escrita portuguesa e universal. Por escassez de tempo acabam por ser viagens relâmpago mas as pessoas entusiasmam-se e trocamos muitas experiências e livros.

O Tiago foi o autor e apresentador do programa Endereço Desconhecido, exibido na RTP2 de Janeiro a Março de 2011 – num total de 12 episódios. Como descreve essa experiência? 
Foi uma viagem de entendimento retrospectivo chamemos-lhe assim. Estudei Relações Internacionais e conhecia alguma da História recente destes países (Malta, Eslovénia, Eslováquia, Lituânia, Letónia, Estónia, República Checa, Polónia, Bulgária, Chipre, Hungria, Roménia), mas aqui os livros não chegam e morrem depressa. A velocidade a que por exemplo se exumaram os cadáveres comunistas é notável. Conhecia o leste russo e sabia da história da ocupação contada pelos russos, a maioria progressistas e anti-soviéticos. É admirável ver como alguns povos de histórias recentes de carnificina reagem com humor às suas páginas sangrentas: por exemplo, fazer jogos de guerra tipo paintball nos mesmo lugares onde os russos deram caça aos seus pares (falo dos letónios de Liepaja).

Já percorreu mais de 50 países em reportagem, sendo o Brasil um dos últimos países visitados (e que servirá de pano de fundo na 2ª série do programa Endereço Desconhecido). O país de Vera Cruz reserva-nos algumas surpresas? 
Garantidamente que este meu Brasil tem aquilo que é o melhor para quem anda a viajar, o inesperado. Por mais que se parta com pesquisas feitas à custa das obrigações da produção o factor surpresa e no caso brasileiro o à-vontade e a inexistência da barreira da língua trazem para os encontros uma espantosa vivacidade. Acho que o público vai querer atravessar o Atlântico ainda mais depressa e ver que não é mito o Brasil continuar a ser 500 anos depois a terra das grandes oportunidades.

Está a trabalhar num novo livro? 
Estou a trabalhar em dois, um livro de crónicas do Brasil e um romance. Tenho ainda um livro infanto-juvenil acabado e a ser preparado (ainda sem data de lançamento), este com desenhos do cartoonista Vasco de Castro. Espero que 2013 seja o ano de dar alegrias aos meus leitores. 

Podemos esperar um livro do Tiago num outro estilo que não o da literatura de viagens?
Acho que respondi na pergunta anterior. Mas, digo que sim. As viagens acabam por me tirar alguma disponibilidade para a dedicação monástica que pede o romance. Para não viver de vida adiada resolvi escrever como escrevi em tempos um projecto de crónicas que é escrever um número de páginas diário e seja o que o Altíssimo quiser. O importante é eu lá estar e já agora contar o melhor possível esta história que me apareceu numa viagem. A caminhar, o que é simbólico na vida de um andarilho professo.

Para o leitor que acaba de ler esta entrevista e ficou com curiosidade em comprar algum dos seus livros, qual o que recomenda em primeiro?
O livro Viagens Sentimentais, o meu primeiro, é também o meu primeiro mapa mundo e onde fui mais longe na arte de contar histórias de viagens. Gosto de olhar para aquele Tiago sem compromissos senão o de escrever, viver e viver para contar o melhor possível.




Pode assistir aos 12 episódios do programa Endereço Desconhecido no sítio da web da RTP2 aqui.

Nota: A entrevista foi realizada via e-mail.

sábado, 26 de maio de 2012

«A Mulher-Casa», de Tânia Ganho

Editora: Porto Editora
Ano de Publicação: 2012
Nº de Páginas: 376
Em A Lucidez do Amor (Porto Editora, 2009) Tânia Ganho apresentou-nos a história de Michael e Paula, um casal separado por uma guerra. Neste seu mais recente trabalho literário A Mulher-Casa, a escritora e tradutora - que escreve «apenas aquilo que lhe apetece, quando lhe apetece» - dá-nos a conhecer outro par, Mara e Thomas. Eles mudam-se duma pacata comuna francesa para a sumptuosa Paris. Ela é modista de chapéus e ambiciona cambiar o seu leque de clientela, agora que chega à capital, cidade de onde emergiu o conceito da haute couture. O marido é o escritor oficial de discursos do Ministro, e Mara acredita que o estatuto profissional de Thomas seja o passaporte directo para a ascensão da sua carreira.
A priori, a sua nova casa enche-a de prazer. A imagem de um vulto imponente, cartaz da cidade, é vislumbrado por Mara através dos vãos das águas-furtadas, de dia, de noite, e esses momentos apenas são corrompidos quando ouve o choro de um bebé de um ano. Por vezes, nos momentos de retracção emocional, Mara esquece-se de que também é mãe. Desde o nascimento de Raphaël, o seu quotidiano rege-se em prol de assuntos relacionados com o bem-estar do filho: idas ao pediatra, contratação de baby-sitters, conversas de mães-galinha e, para ela esse novo mundo é-lhe constrangedor e sufocante. Mara vê o seu pundonor desfalecer-se a cada dia e, para mais, o marido está constantemente ausente de casa, do país e sobretudo, dela. Thomas num curto espaço de tempo torna-se num servo isento de horários e homem-máquina indispensável ao Ministro, homem-omnipotente.
Aproveitando o tempo livre que sobra-lhe, quando o filho dorme ou está na creche, Mara enche a sua imaginação e confecciona chapéus. Todavia, o seu entusiamo por criar é, cada vez mais escasso. Na nova vida desta mulher falta-lhe faísca, tempero, adrenalina. Com o marido em viagens constantes, sobra-lhe ninguém para a acompanhar às exposições de arte, aos museus parisienses, aos jardins e monumentos que fragmentam História de Arte. Esse é o outro mundo de Mara, o de mulher que emociona-se ao ler um bom livro ou degustando uma bela obra de arte.
Matthéo é o cozinheiro da Residência onde o Ministro vive, e é numa festa a que Thomas e Mara são convidados que, ela vislumbra o jovem chef - e qual arritmia, o seu coração palpita celeremente, bombeando o seu cérebro com imagens promíscuas, vis. Mara perde o autodomínio e transgredindo os seus votos de fidelidade, pula a cerca o mais possível, pois o seu desejo enseja ser saciado. De súbito, a sua vida íntima toma uma concupiscência nunca-vista, ora sacia-se com o amante, ora com o marido, ora sozinha. Se Mara fosse uma pintora, o medo, a raiva e a frustração seriam as tintas e estas atiradas ferozmente para uma tela em branco, virgem. Louise Bourgeois seria a sua artista de culto.
Depois de momentos de euforia, a consciência desta personagem pondera a sua vida. Dois homens antípodas em intelectualidade e em maturidade; um filho; um só destino. Uma escolha é peremptória e um duelo de “afinidades” sobrevoa o seu pensamento: «afinidade de carne» versus «afinidade intelectual». Mara decide-se.
Num passeio à cidade de Versallhes, com o filho e de mãos coladas às do homem por quem se decidiu, Mara depara-se com uma grandiosa obra - de uma artista portuguesa – em exibição. Será coincidência a forma e significado que essa “peça” transmite-lhe? Será que Mara ao vislumbrar essa “metáfora-física”, espelho da sua vida, a associará a um dos contos mais populares da humanidade (escrito por um francês)? Um dia as «muletas» deixam-lhe de servir, e coligir momentos felizes quiçá, com mais frequência.
Copy, paste: «Mandei gravar os nossos nomes num cadeado e prendi-o ao parapeito da Pont des Arts. Lancei a chave ao rio (…). No fundo do Sena, enferrujam os milhares de chaves que os amantes do mundo inteiro arremessam para o interior das suas águas.»

Este livro cativa o leitor em vários sentidos. O romance é parco em personagens, dando-nos o privilégio de familiarizarmos com a personagem central; os espaços, monumentos, museus, ruas parisienses descritas neste A Mulher-Casa são reais, com o acrescento de a autora guiar o leitor historicamente por esses lugares (revelando uma escritora conhecedora de Paris); A Torre Eiffel surge neste romance como uma personagem secundária, sem fala, mas falando.
Estruturalmente, o modo como os capítulos estão dispostos, sintácticos e concisos, dão alento à leitura, tornando-a célere, sem parcimónia. A escrita é rica e elegante - mesmo quando é incisiva sexualmente -, os vocábulos francófonos e anglófilos que constam ao longo do livro, são bem empregues, não sendo evasivos nem em excesso.
Depois de lidas as quase 400 páginas de A Mulher-Casa, de Tânia Ganho só posso formar elogios adjectivados e em catadupa. Talentosa. Letrada. Ímpar. Sensível. Atenta.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Passatempo: "Aprenda a usar o seu Poder", de Lauro Trevisan

Um dos maiores nomes da literatura de auto-ajuda em língua portuguesa, o escritor brasileiro Lauro Trevisan, está em Portugal. Estão agendadas jornadas em Lisboa e no Porto cujos pormenores podem ser lidos aqui.

A pensar nos fãs do escritor, esta semana o blogue dá início a um passatempo muito especial e ímpar. O seguinte livro será enviado autografado pelo autor, ao vencedor!

Não é brincadeira, não!

Conferencista, escritor, poeta, contista, romancista, pensador, Lauro Trevisan conta já com 66 livros publicados em Portugal, pela Dinalivro. É formado em Filosofia com pós-graduação, Psicologia, Teologia, História, Exegese, Ascese, Jornalismo, cursos de Parapsicologia, Análise Transacional, Controle da Mente, Nove Domínios da Consciência, Método Chapiro de Administração, Psicanálise, Pedagogia. E outros cursos intensivos.

Site do autor: www.laurotrevisan.com.br

Data limite para participar: 1 de Junho.

Para te habilitares a ganhar este livro, tens de ser seguidor do blogue e "gostar" da página do mesmo no
Facebook, e responder correctamente ao formulário seguinte, esperando que a sorte te escolha.

Regras do Passatempo: 
1) O passatempo decorrerá entre os dias mencionados, sendo exclusivo a participantes residentes em Portugal (Continental e Ilhas); 
2) Será validado exclusivamente as participações com as respostas acertadas e será aceite apenas uma participação por pessoa ou email; 
3) O vencedor será sorteado aleatoriamente através do Random.org e o seu nome publicado aqui neste post, além de ser comunicado ao mesmo via e-mail.

Passatempo: “O Lugar das Coisas”, de Miguel Almeida

«Ser poeta é ser mais alto, é ser maior / Do que os homens! Morder como quem beija!»

Florbela Espanca um dia assim escreveu num dos seus poemas mais célebres «Ser Poeta».

Poeta também é o autor do livro em epígrafe, que esta semana apresento-vos para passatempo. 
Um livro da Esfera do Caos.

PVP: 14,90 euros
Neste O Lugar das Coisas, insere-se também um poema intitulado «Ser Poeta», que poderão ler em exclusivo na entrevista que tive o prazer de realizar ao Miguel Almeida.

Para responderes às questões do formulário abaixo, tens precisamente que consultar a entrevista, clicando no separador onde está escrito Entrevistas e já está!


Data limite para participar: 1 de Junho.

Para te habilitares a ganhar este magnífico livro de poesia, tens de ser seguidor do blogue e "gostar" da página do mesmo no
Facebook, e responder correctamente ao formulário seguinte, esperando que a sorte te escolha.


Regras do Passatempo: 
1) O passatempo decorrerá entre os dias mencionados, sendo exclusivo a participantes residentes em Portugal (Continental e Ilhas); 
2) Será validado exclusivamente as participações com as respostas acertadas e será aceite apenas uma participação por pessoa ou email; 
3) O vencedor será sorteado aleatoriamente através do Random.org e o seu nome publicado aqui neste post, além de ser comunicado ao mesmo via e-mail.

Dinalivro publica novo livro de Lauro Trevisan (Divulgação)

Endereço Desconhecido, de Tiago Salazar (Divulgação)


Baseado no programa televisivo com o mesmo nome, Endereço Desconhecido apresenta-nos de uma forma original doze dos últimos países a aderirem à União Europeia. Se França, Itália ou Grécia são destinos conhecidos, o mesmo não se poderá dizer de terras como a República Checa, Bulgária, Eslovénia, Lituânia, Letónia, Estónia, Eslováquia, Polónia, Hungria, Roménia, Chipre ou Malta. Tiago Salazar, o escritor-viajante-andarilho, é o cicerone desta ronda por uma Europa ainda por desvendar. Em cada um dos doze capítulos, o autor apresenta-nos a sua visão muito pessoal de cada país visitado e que nenhum guia de viagem lhe mostra. Além de passear pela História, pelos costumes e por becos mal-afamados, de contar a verdadeira gesta do conde Drácula, de beber vinho com ciganos romenos, de nadar nas águas de Malta à procura de Calipso, de experimentar as virtudes dos banhos húngaros, de conduzir comboios letónios ou subir a pé as montanhas búlgaras, o que conta no final, para o viajante e andarilho, são os encontros e as pessoas. Porque as pessoas, sabe-o o leitor, são a eterna riqueza de cada lugar.



Outros livros do autor:

Esta Noite Não Aconteceu, de Sónia Alcaso (Divulgação)

Quem esconde um segredo não pode viver em paz

Que poderá acontecer a quem anseia desesperadamente ser rico e famoso e se dispõe a vender a alma para o conseguir? Ao início de uma noite de temporal, Rosário Toledo, uma famosa autora de romances, encontra-se num bar de hotel com um jornalista perverso e calculista, disposto a acertar contas com o seu passado. Na outra ponta da cidade, um assassino chamado Vicente Pedras poupa inesperadamente a vida a um polícia atormentado, criando-se entre ambos uma estranha empatia que os levará a eleger essa noite como a de todas as vinganças - vinganças que incluem, entre outras, o castigo exemplar de uma mulher que abandonou o mercenário há muitos anos. esta noite não aconteceu é uma viagem ao interior sombrio de quatro personagens ao longo de doze horas, durante as quais assistiremos a uma espiral alucinante de encontros e desencontros, recordações e mentiras, abusos, recriminações, violência e sexo desenfreado; mas, à medida que a noite dá lugar à manhã, as máscaras cairão, uma por uma, mostrando que, afinal, nada é o que parece. Um romance empolgante e carregado de acção que nos surpreende da primeira à última página.

aqui mais informações

Crónico, de Pedro Abrunhosa (Divulgação)

Para comprar clica aqui
Pedro Abrunhosa em estado CRÓNICO

Esta semana aprendi o quanto é fácil contentar o Tuga: uma queda em directo e temos o país a reluzir de felicidade, a estrebuchar de contentamento, a esquecer a crise, o défice, o orçamento e, sobretudo, a pequenez que, somada, leva confrangedoramente a este estado alarve ao qual nos fomos placidamente acomodando. Ao ter caído no programa da SIC, ÍDOLOS, levei a casa de cada um de nós um pouco de esperança, de luz, da ambição há muito perdida. Ainda coçando a careca que embateu no chão, e sob os holofotes cáusticos do povo de gengivas abertas, já eu me apercebia de que a miséria humana dos outros leva cada qual a sentir-se maior e mais poderoso ainda que por breves instantes. Valha-nos a net, o Youtube, o Facebook e afins.


«Crónico» reúne as crónicas que Pedro Abrunhosa vem publicando regularmente em algumas revistas de referência, desde 2009.

Os portugueses não se riem de si mesmos e Pedro Abrunhosa corta com esta velha tradição. Em textos de uma lucidez cortante, desmonta alguns dos tiques dos portugueses expondo toda a nossa risibilidade, «Nada é para levar a sério. Muito menos nós próprios», escreve. É essa atitude que marca a abertura deste volume com um texto inédito sobre o famoso trambolhão na gala dos Ídolos que animou os portugueses sedentos pela desgraça dos conterrâneos de sucesso.

Quem conhece e gosta da música de Pedro Abrunhosa, vai encontrar nestas crónicas a mesma exactidão de linguagem com que construiu retratos musicais da nossa sociedade como «Balada para Gisberta», «Novos-pobres» ou “Eu sou o poder».

Temas como a corrupção, os SMSs de Natal, a vontade de ser famoso ou os ginásios que se converteram em discotecas diurnas, são algumas das realidades ampliadas pelo olhar de um dos mais sagazes artistas portugueses.

Este é um livro sobre uma crónica forma de ser português.


Fundador da Escola de Jazz do Porto, em 1994 Pedro Abrunhosa, com os 'Bandemónio’, edita o primeiro álbum (“Viagens”) e atinge a tripla platina, com 240 mil exemplares vendidos. Seguem-se Tempo (1996), Silêncio (1999), Momento (2002), Luz (2007) e Longe (2011), com os Comité Caviar. Lança ainda diversos álbuns ao vivo. Faz mais de 3000 espectáculos espalhados por 20 países e partilha o palco e os discos com os maiores vultos da música internacional; de Nelly Furtado a Maria Bethânia, de Maceo Parker a Caetano Veloso. Realiza conferências, aulas, debates, colabora e escreve para músicos de vários géneros e biografias. Pelo caminho cria os Boom Studios e uma editora homónima que se especializa no rock dos novíssimos grupos e/ou autores que escrevam em português. Aqui, e à imagem do que faz com os seus discos, assume-se como produtor. Está actualmente a escrever o seu sétimo disco de originais.

Porto Editora publica "A última carta de amor" (Divulgação)

Algumas palavras podem terminar uma relação ou fazer renascer um amor perdido
 Sinopse
Inglaterra, 1960. Quando Jennifer Stirling, uma mulher de vinte e sete anos, acorda no hospital, após um trágico acidente de automóvel, não tem qualquer lembrança da sua vida passada. Não reconhece o marido, não recorda a sua própria casa e tão-pouco se identifica com a vida que lhe dizem ser a sua. Quando encontra uma carta apaixonada, escrita por um homem que assina apenas «B» e que lhe pede para abandonar o marido, irá a todo o custo tentar descobrir a identidade desse homem, enquanto enfrenta os preconceitos sociais estabelecidos.
Anos volvidos, em 2003, uma outra mulher, Ellie, descobre nos arquivos poeirentos do jornal onde trabalha a mesma carta enigmática. Fica de imediato obcecada pela história, que lhe permitirá escrever um artigo que relance a sua carreira e talvez até a ajude a lidar com a sua própria vida amorosa. Afinal, se aquela história tiver tido um final feliz, quem lhe garantirá que o homem com quem se envolveu não acabe também por deixar a mulher?
Uma história de amor apaixonante e arrebatadora, com um final absolutamente inesperado.

Outros livros da autora aqui.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

João Luís Carrilho da Graça

O Prémio Fernando Pessoa 2008, o arquitecto João Luís Carrilho da Graça, era para estar presente na Feira do Livro do Funchal e conversar com a jornalista Ana Sousa Dias, no Teatro Baltazar Dias. Infelizmente foi cancelada a sua presença, por motivos de força maior.
Não obstante, deixo aqui uma das suas obras, editada pela Caleidoscópio.
Idioma: Português (Pt), Castelhano
Ano: 2005
Nº Edição:
Editora: Caleidoscópio
Colecção: Arquitecturas
Nº Páginas: 78

Sítio da web do arquitecto aqui.
joão luís carrilho da graça é arquitecto, licenciado pela escola superior de belas artes de lisboa em 1977, ano em que iniciou a sua actividade profissional.
assistente na faculdade de arquitectura da universidade técnica de lisboa de 1977 a 1992.
professor na universidade autónoma de lisboa 2001 a 2010 e na universidade de évora desde 2005. coordenador do departamento de arquitectura em ambas as instituições até 2010. professor visitante da escola técnica superior de arquitectura da universidade de navarra em 2005, 2007 e 2010. convidado para seminários e conferências em diversas universidades e instituições internacionais.
ao conjunto da sua obra foram atribuídos diversos prémios, nomeadamente: o título de “chevalier des arts et des lettres” pela república francesa em 2010, o “prémio pessoa” em 2008, o prémio da bienal internacional da luz-luzboa em2004.


Informação sobre este projecto aqui.



quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Fantasma de Canterville, de Oscar Wilde

Editora: Estrofes & Versos
Ano de Publicação: 2010
Nº de Páginas:70

Neste conto Oscar Wilde narra-nos a história de um atormentado fantasma que há mais de trezentos anos aterroriza sucessivas gerações da família Canterville, em sua mansão, numa Londres mil-oitocentista. Os últimos descendentes dos Canterville decidem pôr a casa à venda e assim, passarem o testemunho fantasmagórico a outros hóspedes.
Os Otis, uma família americana compra a mansão mesmo advertida das histórias de assombrações. Mr. e Mrs Otis são republicanos e educaram os quatro filhos baseando-se no dogma de um mundo materialista, maquinal e sem floreados líricos nem sentimentalistas. Portanto, o medo desenfreado que os antigos habitantes sentiam em relação ao fantasma («(…) um velho com um aspecto terrível. Os olhos de carvão em brasa, o cabelo grisalho; as roupas, de corte antigo, sujas e rasgadas (…)») para esta família é inexistente e isso comprova-se logo na primeira noite, em que o fantasma se revela aos Otis, mas nenhum membro da família se sente abalado pela sua aparição e até ridicularizam-no. O fantasma – que até aprecia a poesia - passa, então, a temer os vivos quando todas as suas tentativas de assustá-los passam incólumes.
Virgínia é a única dos filhos que deixa o seu sangue-frio de lado e aborda-o, tentando compreender o seu historial de vida e sentimentos. Sim, sentimentos.
A temática gótica do conto está dispersa quanto baste, tornando O Fantasma de Canterville uma leitura prazerosa, regada de ironia e sátira entre as sociedades americana versus britânica.
O Fantasma de Canterville é um exercício de erudição admirável alienado à sagacidade e inteligência característica e pecuiliar de Oscar Wilde.
Uma história de trama simples e muito curta que, infelizmente, termina em menos de uma hora.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Entrevista a Paulo Pimentel


“Apaixono-me facilmente por acontecimentos, por locais, por paisagens, por pequenos registos visuais do quotidiano e sobretudo por pessoas, reais ou imaginárias”


Esmeralda é uma «mulher poderosa e com poder encantatório», e coabitou durante 3 anos o imaginário e vida quotidiana de Paulo Pimentel, desde que este “deu-lhe vida”, vestindo-a com indumentária e preceitos medievais - numa era em que o papel da mulher era parco em estatuto, vivendo subordinadas e cingidas aos homens - nos primórdios do Reino de Portugal, na dinastia do segundo rei português.
Esmeralda é a personagem que narra e protagoniza a história do mais recente livro de Paulo Pimentel A Esmeralda do Rei.
O autor é licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses e Alemães, pela Universidade Clássica de Lisboa, e especializou-se em Ciências Documentais. Foi docente durante 5 anos no Colégio Bartolomeu Dias e actualmente é Chefe da Divisão Sócio-Cultural na Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos.
É autor dos contos Serafina; Maria Ruça e Outros Contos e Do Ventre da Terra, e aos 43 anos vê o seu primeiro romance vingar, sob a chancela da Edições Mahatma.
Paulo Pimentel abre-nos um pouco o véu, com o qual teceu este romance histórico.

Texto: Miguel Pestana
Foto: Cedida por Paulo Pimentel
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Este é o seu primeiro romance, embora já tenha obra publicada. Revele-nos um pouco do seu percurso literário e de que forma essa mesma trajetória culmina com A Esmeralda do Rei?
Tudo começou com a publicação de um conto “Serafina” em 1997, depois da distinção desse texto no Prémio Literário Lindley Cintra, promovido pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Em 2000, publiquei um livro de contos intitulado “Maria Ruça e Outros Contos” e em 2008 “Do Ventre da Terra”, um conjunto de contos e outras narrativas breves. “A Esmeralda do Rei” surge como um processo natural de quem, não sendo de História, é um apaixonado pela História, em particular a História Medieval. Depois das publicações anteriores, quem conhecia a minha escrita, instigava-me a escrever narrativas mais complexas, que se adivinhavam e pressentiam já na estrutura dos últimos contos, alguns já muito próximos da novela. Este era o passo natural e inevitável, uma vez que até eu me sentia de alguma forma insatisfeito, enquanto autor, cheio de vontade de me agarrar a projetos mais ambiciosos do ponto de vista do jogo narrativo. Gosto muito do género conto, mas na verdade tinha um desejo enorme de me lançar a escrever um romance.

A Esmeralda do Rei assume-se como um romance histórico, cuja diegese remonta à Idade Média. O que o levou em concreto a escrever esta história?
Sempre tive um grande fascínio pelo rei D. Sancho I e pelo seu reinado. Depois de ter lido muito sobre a sua vida e sobre a sua atuação na consolidação do território português como reino independente, quer no quadro da hegemonia ibérica quer nos confrontos constantes com as forças almóadas, que dominavam os territórios do Sul da península, lancei-me nesta aventura de escrever um romance, em que uma das personagens centrais seria o segundo rei de Portugal. Curiosamente, fui dominado aos poucos por este personagem feminina, a Esmeralda, que foi quem me conduziu durante a construção de toda a narrativa. 
A Esmeralda acabou assim por se tornar na personagem principal deste romance e passou, desde então, a fazer parte da minha vida e do meu quotidiano. A alma da Esmeralda veio para ficar. É uma mulher intemporal, dona de uma força extraordinária. Uma alma asselvajada e ao mesmo tempo doce e cativante. Foi uma grande responsabilidade escrever sobre ela.

O tempo narrativo do romance decorre no século XII. Denota-se que tenha realizado um moroso trabalho de pesquisa, ou não?
Sim. A Esmeralda do Rei resulta de uma pesquisa exaustiva sobre o tempo dos primeiros três reis de Portugal, com especial incidência sobre o reinado de D. Sancho I, nos seus diversos aspetos, desde a ação política, o contexto religioso, aspetos da vida social, da economia, os usos e os costumes, a cultura e as mentalidades, a realidade linguística, entre outras matérias. Foi consultada e lida uma vasta bibliografia de base para escrever este romance, que passou desde manuscritos medievais a documentos em suporte digital. Embora esta seja assumidamente uma obra de ficção, houve um grande cuidado e respeito pelos factos históricos. 
Foram três anos da minha vida, em que estive completamente embrenhado neste projeto.

Esta sua obra deu origem a outras manifestações criativas. Quer revelar-nos de que forma A Esmeralda do Rei acabou por “dar corpo” a um projecto mais envolvente, envolvendo poesia e escultura?
A poesia e a escultura associaram-se a esta obra de uma forma quase espontânea. Uma das primeiras pessoas a ler a prova do romance foi a minha amiga Catarina Gaspar, a autora do livro de poesia “A Esmeralda, O Rei”. Algum tempo depois de ler o texto e de me relatar as suas primeiras impressões, a Catarina apareceu no meu local de trabalho com um conjunto fabuloso de poemas que lhe tinham surgindo naturalmente, associados às personagens, aos momentos e às sensações que ia experimentando, à medida que avançava na leitura da narrativa. A partir de determinada altura, afirmou-me ter sido dominada pela personagem principal do livro e por um desejo incontrolável de escrever sobre esta história, numa perspetiva poética. Assim nasceu este corpus de poemas. Eu já considerava a Catarina uma excelente poeta e fiquei completamente rendido àqueles versos, àquela espécie de renascimento da minha “Esmeralda” que já voava então com novas asas. Apresentámos a proposta à editora que entendeu o projeto tal como ele já estava a crescer - para além das fronteiras da narrativa - propondo fazer a publicação dos poemas. Assim, os dois livros são obras autónomas mas com uma forte relação e partilha de emoções entre si. 
Quanto à escultura, o Carlos Oliveira tinha estado no lançamento do meu anterior livro e no fim da sessão veio ter comigo, expressando a sua vontade em colaborar comigo num futuro projeto, uma vez que, segundo ele, se sentia atraído pela força encantatória das minhas personagens e da minha escrita. Passámos tardes no seu atelier nas Caldas da Rainha a falar da Esmeralda, a ler trechos do romance, assim como os poemas, surgindo este conjunto de peças, no meu entender, com uma força e um magnetismo extraordinários. Aos dois, estou profundamente agradecido e tem sido um privilégio termos trabalhado os três. Criou-se uma energia muito especial entre as nossas diferentes sensibilidades, quer ao nível pessoal quer ao nível estético. A Esmeralda, sendo uma mulher poderosa, transmitiu-nos, de certo modo, esse seu poder encantatório.

Como se define o Paulo Pimentel enquanto autor?
Imagino que seja difícil um autor definir-se. Nunca pensei muito nisso de forma séria. Apaixono-me facilmente por acontecimentos, por locais, por paisagens, por pequenos registos visuais do quotidiano e sobretudo por pessoas, reais ou imaginárias, à volta das quais me apetece dar corpo a uma história; é uma espécie de processo alquímico que comparo a uma boa amassadura de pão, como diria a minha avó, que foi uma grande mestra na minha vida: um processo que vai desde a mistura dos ingredientes básicos como a farinha e a água, passando pela junção do sal, pelo fermento e por um bom e duro trabalho de mãos, até que a massa adquira a consistência desejável para levedar e ficar pronta para ser levada ao forno. 
O Paulo Pimentel, enquanto autor, vive intensamente o seu processo criativo, em permanente estado de graça e de surpresa, uma vez que, sabe sempre como as suas histórias começam, mas é incapaz de antever as partidas que lhe vão pregar as personagens e o próprio desenrolar dos acontecimentos. O ser humano é muito imprevisível e essa imprevisibilidade, embora me provoque uma certa ansiedade, exerce sobre mim um desafio a que nunca renego. É difícil descrever-me enquanto autor e sinceramente não me preocupo muito com isso, porque o que me dá o verdadeiro prazer é mergulhar no processo criativo, vivificá-lo e deixá-lo fluir naturalmente, ainda que dentro de certas margens que tiveram de ser muito bem definidas, numa espécie de contrato que assino com uma entidade que ainda não descobri qual é, mas com a qual discuto intensamente, antes de começar propriamente a escrever. 
Uma viagem que tem ponto de partida e ponto de chegada muito bem pensados, mas em que não há hora para chegar nem o número de paragens é relevante ou pré-definido. Eu quase diria que durante o tempo em que estou a escrever, acabo por entrar numa espécie de alteridade. Esta experiência nunca tinha sido tão intensa como com este romance.

Como caracteriza a sua escrita, em termos da relação que pretende entabular com os seus leitores?
Embora me considere bastante auto-crítico e seja capaz de alterar um parágrafo vinte vezes, até chegar exatamente aonde pretendo, gosto depois de receber elogios, seja de quem for. Só assim dou a minha missão por cumprida. Sou um pouco inseguro e preciso mesmo de saber se a minha escrita mexeu com as pessoas e provocou sensações, e fico satisfeito quando me abordam. Se são os vizinhos da rua com quem me cruzo todos os dias, se é a senhora do café, que leu a minha história e se identificou com determinada personagem, ou se é alguém de um meio mais académico que tece determinados considerações que jamais me passariam pela cabeça. 
Todos os leitores me interessam e todos me importam, enquanto canal transmissor de emoções e experiências. A partir do momento em que dou um texto por terminado e o partilho com outrém, a narrativa deixa de ser minha, as personagens deixam de ser minhas, e passam a povoar outros territórios. Adquirem novos traços, vidas mais enriquecidas. É uma sensação de missão cumprida que não consigo bem explicar mas que me provoca um bem-estar indescritível. É uma forma de eu próprio me fazer cumprir nos outros e de me sentir muito próximo. Um tipo de generosidade que não consigo definir melhor.

O que pensa da literatura portuguesa dos nossos dias?
Há gente a escrever bem e com muita qualidade e há obras que são autênticos rasgos de genialidade. A literatura portuguesa vive atualmente momentos de uma grande pujança técnica e criativa, refletindo os tempos conturbados e os desafios que estamos a viver. A nossa literatura tem raízes e tem asas. Temos excelentes poetas e muito bons escritores. Penso que a nossa língua e a nossa literatura têm conquistado um território que se tem vindo a consolidar até no panorama internacional. 

Quais são as suas referências literárias?
Não sei. Nunca pensei muito a sério sobre essa questão. Talvez as minhas maiores referências literárias sejam os clássicos da Antiguidade que fui obrigado a estudar na faculdade e que constituíram uma verdadeira revelação, provocando-me momentos de grande gozo e prazer literários. Encontrei na essência daqueles textos mais do que poderia imaginar. Criei uma ligação quase religiosa com eles. Os poemas homéricos, com quase 30 séculos ou a Eneida de Virgílio são colossos da literatura, da cultura e do processo civilizacional que, qualquer ser humano, minimamente interessado no seu auto-conhecimento, deveria ler. Está lá tudo e tudo caminha na direção da excelência e da superação do homem, enquanto ser sensível e ser pensante.
A partir dessas bases, houve obras e autores de diferentes proveniências e em diferentes géneros que me têm marcado, desde a lírica galaico-portuguesa, passando por Fernão Lopes, Dante, Unamuno, Lessing, Goethe, Raúl Brandão, Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, Ernest Hemingway, Gabriel García Marquez, Camilo José Cela, Agustina Bessa-Luís, Mia Couto, o Professor Eduardo Lourenço e tantos outros.

A Edições Mahatma festeja este mês o seu primeiro ano de vida. Qual a sua visão acerca da editora no panorama editorial em Portugal?
Já conhecia alguns dos responsáveis da Mahatma, por relações de trabalho e amizade, anteriores à existência desta publicação. Não hesitei quando me foi formulado o convite para publicar este romance com esta jovem editora. São excelentes profissionais, gente séria, dedicada e persistente, apostando em apresentar um trabalho honesto e com qualidade. Estou muito satisfeito com o resultado e temos trabalhado em estreita parceria. Farei o que estiver ao meu alcance para ajudar a Mahatma a crescer e a afirmar-se no panorama editorial em Portugal.

A avaliar pela recepção e pela crítica, deduz-se que após este romance outros projectos literários se seguirão. O que nos pode revelar acerca do seu futuro na literatura?
Estou neste momento em fase de “fermentação”, relativamente a um novo projeto, na área do romance histórico. As personagens femininas exercem um grande fascínio sobre mim e estou em fase de enamoramento com a D. Mécia Lopez de Haro, uma fidalga de origem basca e portuguesa, que chegou a ser rainha de Portugal, por casamento (não provado) com D. Sancho II, um rei muito controverso e com um final de vida extremamente infeliz. Seduzem-me os seres que foram ensombrados pela infelicidade. Apetece-me dar-lhes novas oportunidades, explorando algumas pistas da sua vida que me possam torná-los um pouco mais felizes e grandiosos. “Estamos os três” neste momento ainda a travar conhecimento e a estabelecer relações. Mas apetece-me muito escrever sobre este tempo conturbado e difícil da História de Portugal. Escrever sobre o passado distante, ajuda-me a compreender e a aceitar o presente, não no sentido da resignação, mas no sentido de encarar o futuro como um oceano de oportunidades. Nós, os portugueses, continuaremos a ser uma janela para o mundo. Cada vez mais acredito que temos papéis determinantes a cumprir, tirando partido de uma identidade original, assente na diversidade, na tolerância e no multiculturalismo.

Nota: A entrevista foi realizada via e-mail.

IMPERDÍVEL


FESTA DA CULTURA FUNCHAL 2012 – 5º Dia

"Conversas com... IRENE FLUNSER PIMENTEL"
21H00, Salão Nobre do Teatro Municipal Baltazar Dias
Irene Flunser Pimentel nasceu em 2 de Maio de 1950 em Lisboa e licenciou-se em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, em 1984, tendo feito o Mestrado em História Contemporânea (variante século XX) na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em Julho de 1997, com a tese “Contributos para a História das Mulheres no Estado Novo. As organizações femininas do Estado Novo (Obra das Mães pela Educação Nacional e Mocidade Portuguesa Feminina), 1936-1966”, que obteve a classificação de Muito Bom.
Em Janeiro de 2007 doutorou-se em História Institucional e Política Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com a tese “A Polícia Internacional de Defesa do Estado. Direcção-Geral-de-Segurança (PIDE/DGS). História da Polícia Política do estado Novo. 1945-1974”, com a classificação Muito Bom com Distinção e Louvor por unanimidade.
Depois de ter trabalhado no campo editorial e livreiro, dedicou-se à investigação historiográfica, além de ter sido editora da revista História. Publicou diversos artigos em jornais e revistas de História, sobre vários temas: o nacionalismo, os refugiados em Portugal durante a II Guerra Mundial, o Fascismo italiano e o nacional-socialismo; o antissemitismo e o Holocausto; as organizações femininas e a política relativa às mulheres, bem com o a política assistencial e eugénica do Estado Novo. Ultimamente tem-se dedicado ao estudo da PIDE/DGS, polícia política da ditadura portuguesa.
Alguns livros da autora:

domingo, 20 de maio de 2012

FESTA DA CULTURA FUNCHAL 2012 – 4º Dia

"Conversas com... VASCO GRAÇA MOURA"
21H00, Salão Nobre do Teatro Municipal Baltazar Dias

A jornalista Ana Sousa Dias “conversa com…” Vasco Graça Moura, poeta, ficcionista, ensaísta, cronista e tradutor. O seu trabalho literário cobre uma vastíssima bibliografia e tem merecido consagração nacional e internacional. Nos últimos anos recebeu, entre outros, o Prémio Pessoa (1995), a Coroa de Ouro do Festival Internacional de Struga (2004), o Prix Max Jacob Étranger (2007), o Premio Nazionale di Traduzione italiano (2009), os Grandes Prémios de Poesia (1998) e de Romance e Novela (2004) da Associação Portuguesa de Escritores, e os Prémios Paulo Quintela, da Universidade de Coimbra (2006), e Vergílio Ferreira, da Universidade de Évora (2007).
Alguns livros do autor: