sábado, 31 de outubro de 2015

«O Que Vemos Quando Lemos», de Peter Mendelsund

Editora: Elsinore
Data de Publicação: Outubro de 2015
N.º de Páginas: 448
São poucos os livros que conseguem despoletar ao mesmo tempo vários dos nossos sentidos. Em O Que Vemos Quando Lemos a visão é a primeira sensação a ser estimulada quando olhamos para o sugestivo título (que capta a atenção de qualquer book addicted que se preze) e a capa minimalista com fundo preto, com uma mini-fechadura a reflectir uma cor dourada. O tacto é o segundo: a capa, contracapa e badanas da obra foram impressas num tipo de papel que nunca tinha visto/sentido antes, um misto de tecido cetinoso, borracha, aderente às mãos. Antes sequer de qualquer página ser virada, ao nosso olfacto chega-nos um cheiro extasiante a livro, a cartolina e tinta fresca (grande parte das quase 500 páginas do livro têm fundo e manchas grandes negras, por isso o faro extremo a tinta, a livro, a sabedoria). Dos cinco sentidos, apenas o paladar fica adormecido quando pegamos e lemos este livro de um conceituado designer editorial nova-iorquino, Peter Mendelsund, que afirma — e ainda fazendo a analogia com o sistema sensorial — que «quando estamos a ler, nós escutamos mais do que lemos».
O que é e para que serve a leitura? O que é um bom livro? Como saber distinguir a boa da menos boa literatura e por que as lemos? Será que a literatura serve apenas para entreter e consolar as pessoas? No leitor, como se forma o retrato mental de uma personagem de um romance que lê? Para dar resposta a estas perguntas e a outras, o autor, ao longo de toda a obra, enumera várias obras de ficção bem conhecidas dos leitores, como Ulisses, Moby Dick e Jane Eyre. Mas são dois os clássicos da literatura que mais recorrentemente Mendelsund evoca neste seu exercício fenomenológico ilustrado: Anna Karénina, de Lev Tolstói e Rumo ao Farol, de Virginia Woolf. Até que ponto num livro, a caracterização física e psicológica bem pormenorizada, visualmente bem definida e característica (écfrase), como fez Agatha Christie a Hercule Poirot, pode contribuir para que o leitor ganhe mais empatia por uma personagem?
Num estilo único, ao mesmo tempo erudito e informal, o autor esmiuça termos técnicos utilizados por escritores e demais profissionais ligados ao mundo da edição na composição de um livro, como imagem, signo, metáfora, símbolo, código, modelo e significado, para descrever a experiência da leitura. Tudo exemplificado não apenas por palavras mas por ilustrações, diagramas, gráficos, colagens, estampas de livros, etc. What We See When We Read (título original publicado no Verão de 2014) reflete a ideia de que a leitura não é e nunca pode ser um processo linear.
Não saímos incólumes depois de lermos O Que Vemos Quando Lemos, um exímio tratado semiótico e epistemológico, abordado de uma forma peculiar mas original. Deste livro saímos com uma sensação de aprendizagem. A forma como pensávamos sobre o fenómeno da leitura altera e expande-se. Recomendado a todo o tipo de leitores, escritores, editores, designers, críticos literários e estudantes de Literatura.
Excertos
«Enquanto leitores, somos tanto o maestro quanto a orquestra, assim como audiência.» (p. 160)
«(...) lemos porque os livros nos concedem prazeres únicos; prazeres que os filmes, a televisão e outros não podem oferecer.» (p. 192)

2 comentários:

Arnaldo Santos disse...

Este livro, deveria ser lido por todas as pessoas, incluindo escritores e profissionais ligados ao mundo da edição, na composição de um livro, tal a sua qualidade e ensinamentos.
Um livro imperdível e que será uma óptima prenda de Natal para a própria pessoa ou para oferecer a alguém que se estima. Recomendo vivamente!

Lúcia Brandão disse...

Adorava ler este livro!
Eu quando leio consigo visualizar coisas extraordinárias e por vezes até me sinto dentro da história, como se fosse um dos personagens!
Tenho bastante curiosidade de saber o que tem este escritor a dizer acerca do assunto!