domingo, 4 de outubro de 2015

«Pura Coincidência», de Renée Knight

Editora: Suma de Letras
Data de Publicação: 07/10/2015
N.º de Páginas: 304

5. É esta a pontuação que atribuo a este romance de estreia da britânica Renée Knight, que antes de se dedicar exclusivamente à escrita, realizava documentários para a BBC. A profissão que a jovem escritora de 55 anos exerceu durante vários anos é a mesma que decidiu atribuir a Catherine, a protagonista deste thriller psicológico.
2013. Catherine e Robert são um casal que vive em Londres e que têm uma vida e um casamento estável e, aparentemente, feliz. Mas este cenário idílico muda quando é enviado à reconhecida realizadora um livro de ficção escrito sob pseudónimo, intitulado O Perfeito Desconhecido. Ao começar a ler o misterioso livro, Catherine apercebe-se de que é a sua história que é revelada nas páginas, ao pormenor. O desespero começa a entranhar-se-lhe na garganta e esse aperto deve-se ao descortinar de um terrível segredo que ela nunca contou a ninguém. Esse segredo decorrido há 20 anos, num outro país, se for do conhecimento do marido e de Nicholas, o filho que na altura do acontecimento era uma criança, poderá pôr a sua integridade em risco. A vida desta mulher independente e forte vai-se, pouco a pouco, desmoronando, devido ao medo que sente de esse autor chantagista, que ela desconhece, fazer chegar aos seus familiares esse maldito livro. Mas quem será essa pessoa vingativa, que quer fazer com que Catherine pague pelo acontecimento fatal, decorrido numa estância balnear espanhola, no Verão de 1993? Catherine julgava que a única pessoa que realmente sabia do seu segredo encontrava-se morta há muitos anos. De que será capaz esta mulher para manter a sua reputação intacta?
Entrelaçada com a narrativa da protagonista, vamos conhecendo a obsessão que Stephen, um ex-professor viúvo septuagenário, tem em descobrir verdadeiramente os contornos da morte do seu filho, perda essa que ainda não superou e que lhe acarreta raiva e paranóia, dia após dia.
Será que conhecemos verdadeiramente os nossos cônjuges e filhos? Quantas mentiras e segredos eles nos escondem? Quantos segredos tenebrosos guardamos só para nós?
Pura Coincidência (Disclaimer), um livro dentro de um livro, um romance sobre duas famílias de dois filhos, não decepciona em absolutamente nenhum ponto: a trama foi magistralmente bem delineada e escrita; a narrativa de Renée Knight consegue manter o leitor participante, frente à frente com os acontecimentos e faz-nos criar, precocemente mas com intenção, uma imagem negra da índole de Catherine: uma má mãe, uma mulher adúltera e promíscua, sem valor moral. Ao entrarmos neste jogo preparado pela autora, somos enganados e alvo de chacota. Quando chegamos a essa conclusão, a de que um escritor nos enganou com as suas artimanhas, só podemos dar o braço a torcer e reverenciá-lo. Cheque-mate.
Pura Coincidência é um notável romance de estreia de uma autora a quem devemos tirar o chapéu. É instigante, perturbador e contém um enredo e personagens convincentes, plausíveis. Inclui uma dose ligeira de erotismo (ler o excerto abaixo) e um intermitente suspense psicológico, que se alimenta através de voltas e reviravoltas na acção e de capítulos curtos, concisos, que criam expectativa.
Pura Coincidência, uma obra obrigatória para os amantes de thrillers psicológicos, possui todos os pressupostos para ser adaptada para o cinema, tal como outros livros de mesmo género, que obtiveram grande sucesso no estrangeiro e em Portugal, como Em Parte Incerta e o mais recente êxito editorial A Rapariga no Comboio.
Uma última nota direccionada à editora Suma de Letras, que optou, e bem, por não manter o frontispício original e internacional, que a extrema maioria das editoras que detêm os direitos de publicação do livro têm seguido. A capa desta edição portuguesa, da autoria de Pedro Aires Pinto, é uma das melhores que já vi nos últimos tempos. Além de ter substância, Pura Coincidência também tem um exterior aliciante, e isso, os leitores e os especialistas em marketing editorial, sabem que é fundamental para a compra de um livro.


Excerto
«Ela devorou-o e ele devorou-a. O seu biquíni vermelho mal tapava as partes do corpo que ele já conhecia tão bem. Ele conseguia visualizá-lo todo sem sequer se esforçar. Era como se ela estivesse nua. Os seios, as nádegas, o osso púbico. Também conseguia imaginar o seu cheiro, de onde estava, e a sua erecção fez pressão na areia.» (p. 151)

12 comentários:

Alexandra Guimarães disse...

Deixou-me muito curiosa. Mais um para a wishlist.

Vera S. disse...

E vai para a minha wishlist também! Perfeito.

Unknown disse...

Excelente

Unknown disse...

Excelente

Unknown disse...

Excelente

Unknown disse...

Desde que li A Rapariga no Comboio que fiquei fã deste tipo de livros. Este vai ser uma das minhas prendas de Natal sem duvida!

Nicole Martins disse...

Muito obrigada pela opinião! Este livro está na minha wishlist à bastante tempo! A vossa opinião veio ao encontro daquilo que espero do livro! Deixaram-me ainda mais ansiosa :) Espero poder lê-lo o mais brevemente possível! Boas leituras :)

Rui Alves disse...

Li a crítica a este livro e fiquei com imensa vontade de o ler. Continuem o bom trabalho... E boas leituras.

Catarina disse...

Livro que gostava muito, que vou pedir como presente de Natal.

Unknown disse...

Gostava de ler este livro.

Unknown disse...

Parece muito interessante.

Unknown disse...

Tenho muita curiosidade em ler este livro.