quarta-feira, 15 de março de 2017

«Factotum», de Charles Bukowski

Editora: Alfaguara
Data de publicação: 08/03/2017
N.º de páginas: 192

Devido a «acessos de depressão», Henry Chinaski, um indivíduo com trinta e tal anos, é considerado por um psiquiatra como inapto para o serviço militar, e assim deixa de servir o país na Segunda Guerra Mundial. Em Los Angeles, este homem sem trabalho passa os dias alimentando os seus vícios: álcool, tabaco e sexo. Entre o ócio e a sua aspiração a ser um escritor reconhecido («Sou um escritor temporariamente falho em inspiração»), Chinaski consegue arranjar um de muitos posteriores empregos precários, enquanto vai percorrendo várias cidades americanas como Nova Orleães, Filadélfia e Miami. Por estar constantemente sob o efeito do álcool nos trabalhos por onde passa, arranjando altercações com colegas e patrões, ora ele é despedido ora despede-se voluntariamente.
Jan, uma mulher que Chinaski conhece num bar numa dessas cidades por onde vai assentando temporariamente, torna-se sua companheira, mas tal como ele, ela é alcoólatra e com apetite sexual excessivo. Essa relacção entre estes dois amantes que por mais que tenham sexo, se sentem cada vez mais vazios, é posta em causa por ele ser um tipo que se dá bem com a solidão («Enfranquecia a cada dia passado sem solidão. Não me orgulhava da minha solidão; mas dependia dela»); e em todo o caso, Chinaski é misantrópico, não cria vínculos com as pessoas.
Factotum vai assim traçando, ao longo de oitenta e sete curtíssimos capítulos, a tentantiva de um homem em se subsistir, enquanto luta para deixar de ser uma marioneta dos seus vícios. Henry Chinaski se sujeita a fazer um pouco de tudo — daí o título do livro — para alimentar os seus demónios.
Nesta obra, tal como em outras de Charles Bukowski (1920-1994), mais uma vez Henry Chinaski, alter ego do autor, está presente e é protagonista.
Através de uma prosa livre e espontânea, sem ornamentos estilísticos e estruturais, o autor consegue feitar um romance aliciante e de leitura prazerosa. O estilo totalmente informal, com palavreados de caráter obsceno e agressivo em nada torna este romance menor. Pelo contrário.
Factotum, título traduzido para português por Vasco Gato, foi originalmente publicado nos Estados Unidos em 1975 e nunca fora publicado em Portugal, até agora. Este é o segundo romance que Bukowski publicou e deu origem em 2005 a um filme, homónimo, protagonizado pelo actor Matt Dillon.


Excerto
«… os grandes amantes são sempre homens de ócio. Eu fodia melhor quando era vagabundo do que a picar o ponto no trabalho.» (p. 99)

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