domingo, 8 de abril de 2012

Ensaio sobre o ciúme, de Leon Tolstoi

Editora: Coisas de Ler
Ano de Publicação: 2007
Nº de Páginas: 136
Mil oitocentos e noventa e um. Foi neste ano que o autor de Anna Karenina ou Guerra e Paz escreveu este Ensaio sobre o ciúme (A Sonata de Kreutzer - denominado também em outras edições).
A acção desenrola-se numa viagem de comboio, onde, por mero acaso, se vão juntando passageiros que em conversa abordam questões relacionadas com o casamento e sobre o papel do homem e mulher, para sustentar a relação. Surgem discussões bastante acesas, pois as opiniões sobre o tema são antípodas dentre os ocupantes do dito meio de transporte.
A conversa esfria e os ocupantes tomam o seu rumo, deixando o comboio numa paragem. A determinada altura Podzdnischeff, um passageiro que assistiu a toda a discussão, muito calado, começa a falar com o único ocupante que restou. Começa então – quase em monólogo, a contar a esse passageiro a sua história no que se refere ao casamento. É um relato triste, amargurado e terrivelmente intenso. Ao longo do relato, o protagonista da novela dá-nos a conhecer a sociedade da época, de como era a educação dos jovens em relação ao sexo, na Rússia de finais de século XIX. Este homem não poupa as suas palavras e diz que «…a maioria dos homens vê as cerimónias religiosas, nada mais nada menos, como a condição necessária para ser dono de uma determinada mulher.»
A sua visão é bastante pessimista e não é de estranhar para o leitor que teve conhecimento, deste a priori, do acto cometido por Podzdnischeff e em frases como a seguinte: «Eu odiava-a como jamais se pode odiar alguém(…)»
Tolstoi coloca aqui todas as situações de atrito de um casal, assim como muitos pensamentos que alguns classificariam como imorais. Além de ser um ensaio sobre o ciúme, é um ensaio sobre a frágil convicção do homem que por vezes julga que se pode controlar completamente a si, mas que em situações práticas, ele próprio acaba por ser a principal vítima. O ciúme desperta múltiplas emoções: raiva, dor, inveja, tristeza, medo, depressão e humilhação. Todas elas vêm à tona, durante o relato da vida de casado do protagonista.  A música Sonata a Kreutzer - de Beethoven, produz em Podzdnischeff um conjunto de sentimentos que vão desencadear o desenlace final da novela. 
De salientar que foi produzido um filme em 2008 baseado neste romance. O trailer pode ser visto aqui e a Sonata de Beethoven ouvida aqui.

6 comentários:

redonda disse...

Dele já li Anna Karenina e Guerra e Paz. Este ainda não. Vou procurar o livro em próxima ida a Bertrand ou Fnac...

Miguel Pestana disse...

Vais gostar de ler. É muito bom e lê-se num ápice.

djamb disse...

Olá Miguel, obrigada pela visita ao Folhas de Papel.
Foi uma óptima surpresa conhecer este blog. Parabéns!
Anna Karenina tenho na "to read list", o primeiro de Tolstoi que vou ler. É de leitura obrigatória!
Boas leituras!

susemad disse...

Esta foi a primeira obra que li do autor. A minha edição intitula-se "A Sonata de Kreutzer". É uma obra fabulosa! E foi assim que Tolstoi me conquistou.
Ainda me falta ler o tão famoso "Guerra e Paz".

Miguel Pestana disse...

Começaste bem entao, na obra de Tolstoi. Um livro pequeno, em folhas.

Eu não, comecei com o imensurável Anna Karenina!
Foi um erro, agora sei. Nunca deveria ter tido o escolhido como 1º. E também faz já uns 7 anos. Agora sei que não gostei desse livro porque não tinha ainda a "bagagem" necessária para lê-lo.

susemad disse...

Sim tenho de concordar com a tua perspetiva das coisas, Miguel. Realmente se tivesse começado pela "Anna Karenina" acho que não teria gostado tanto dele, como gostei. Só o li após ter lido outras obras do autor. E agora só irei ler "Guerra e Paz" quando sentir que terei a preparação suficiente para o absorver.
"Anna Karenina" é uma obra extraordinária, que vai muito mais além do que um simples romance. Eu no início pensei que a obra fosse mais centrada em Anna. Mas estava enganada...
A busca existencial de Levine foi o que mais me interessou. As interrogações que fazem si próprios, todas as incertezas e reflexões, e o facto de não poderem fugir ao seu próprio destino. No final vemos que a Anna só poderia ter aquele fim e que Levine, após a sua busca desenfreada do seu eu, encontra finalmente a paz para e sua própria vida.
Tolstoi, na minha opinião, apenas peca por debruçar-se demasiadamente na relação campo versus cidade. Esta parte confesso que me cansou um pouco, mas não o suficiente para desanimar, pois "Anna Karenina" é uma história para ser absorvida lentamente.