segunda-feira, 11 de junho de 2012

Entrevista a Mahbod Seraji

[You can read this interview in english here]

“Escrever envolve estar comprometido a sério, exige dedicação séria ao seu ofício, além de disponibilidade mental e um pouco de investimento emocional



Não é natural o autor comum deixar o seu contacto electrónico nos livros e apelar aos leitores para que o contactem - pois dizer ter todo o prazer em ouvi-los. 
O iraniano Mahbod Seraji é um desses escritores e como confessa no posfácio no seu livro de estreia Terraços de Teerão (Editorial Presença, 2011), já leu centenas de livros e quase sempre desejou poder trocar as suas ideias e sentimentos directamente com os autores. Não é estranha esta receptividade e interacção, portanto. 
Ao escrever Terraços de Teerão o autor quis dar a conhecer o outro lado do Irão aos leitores e desmistificar os esterotipos culturais e políticos de que este país do Médio Oriente (antiga Pérsia) ainda é “vitima”. Os livros também podem ser escritos para mudar mentalidades, e este Terraços de Teerão é um bom exemplo para ser posto em prática. 
Levou três anos a escrever o seu primeiro livro - mas desde os seus 10 anos que o ambicionava – e tem já outra obra pronta a ser publicada, como conta-nos. 
Mahbod Seraji é engenheiro civil de formação e actualmente é consultor de gestão em diversas empresas chinesas, indianas e américo-latinas, sendo frequentemente convidado para ensinar programas de desenvolvimento de executivos em todo o mundo. Vive em San Francisco, California, EUA. 

Texto: Miguel Pestana
Foto: Mahbod Seraji
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Editou o seu primeiro livro em 2009, com 53 anos, mas já aos 10 que decidiu que viria a ser escritor. Porquê esperou tanto tempo?
Eu sempre quis escrever, mas as circunstâncias da minha vida não permitiram isso. Eu estive muito ocupado com o trabalho, lidando com questões familiares, educando o meu filho… Escrever envolve estar comprometido a sério, exige dedicação séria ao seu ofício, além de disponibilidade mental e um pouco de investimento emocional. Eu não acho que eu estava pronto ao longo desses anos.

Qual foi a parte mais difícil ao escrever Terraços de Teerão, e por quê?
O final. Eu tinha vários finais diferentes em mente, mas alguns deles eram seriamente deprimentes e isentos de esperança. Os meus amigos que leram os primeiros rascunhos da história a sério me desencorajaram a escrever um fim triste e desgraçoso, especialmente tendo em conta a política do Irão no ambiente político actual. O final corrente do romance foi escolhido com o intuito de simbolizar a esperança e um futuro mais brilhante - é por isso que o livro termina com uma referência às estrelas.

Depois que eu li o livro eu pesquisei a sua biografia. Eu quase posso afirmar que Terraços de Teerão é semi-autobiográfico. Eu estou errado?
O livro é semi-autobiográfico, mas também é muito ficcional. Por exemplo, eu mudei datas para adaptar a narrativa, o calendário dos eventos, os locais, etc. É importante para os leitores, saberem que esta não é uma autobiografia. O romance é, tanto quanto eu estou interessado em que seja interpretado, uma obra de ficção que tomou emprestado elementos da minha vida real, a fim de a história ser mais credível. Todas as ficções são "mentiras graciosas", gostaríamos muito de acreditar nisso.

Este livro tem tido um sucesso extremo como também tem recebido alguns elogios do San Francisco Chronicle, Publishers Weekly e outros jornais e revistas. Estava à espera desta boa aceitação por parte da crítica?
Eu não esperava, mas estou entusiasmado com isso. Eu nunca pensei que o livro fosse traduzido em tantas línguas, ou que eu viesse a receber e-mails de leitores do livro de todo o mundo. Estou agradavelmente surpreendido. Espero que o meu próximo livro receba o mesmo tipo de atenção positiva.


Quando você terminou de escrever este romance, você preponderou que o livro pudesse ser traduzido – no momento desta entrevista – em onze línguas?
Não, como eu disse acima, eu não fazia a ideia. Na verdade, eu acho que o livro já está traduzido em 15 línguas. Li algures que 97% dos romances vendem menos de 5.000 cópias. Então, eu fiquei chocado e emocionado quando o meu livro vendeu assim tanto em muito pouco tempo. Escrever o seu romance de estreia é como você tentar pular uma vala larga. Você dá balanço tanto quanto você pode, você corre o mais rápido que puder e então você dá o salto e reza para chegar ao outro lado. É excitante, mas também estressante.

O livro Persepolis, uma novela gráfica de Marjane Satrapi, retrata a sua infância até os primeiros anos adultos no Irão durante e após a revolução islâmica. É importante para o povo iraniano, dar o seu testemunho de como viveram aquele momento problemático?
Eu adoro Persépolis. Eu sou um grande fã dela. Acho que toda a gente tem um motivo diferente para escrever. Eu não posso dizer o que a motiva a escrever. O meu foi para lembrar as pessoas como os acontecimentos se desenrolaram sob a soberania do . Fomos de mal a pior com a nossa revolução, e eu queria lembrar as pessoas disso, especialmente àqueles que glorificam o reinado do no Irão.

Quais são as suas referências literárias
Não sei o que isso significa!!!

Já leu algum livro de algum escritor português?
Eu só li dois livros, ambos de José Saramago: Ensaio sobre a Cegueira e Ensaio sobre a Lucidez. Eu achei que ambos eram livros incríveis. Muito poderosos. Eu sou um grande fã da escrita dele.

Depois desta surpreendente estreia literária, os leitores podem esperar brevemente outro romance?
Sim, o meu segundo livro está acabado. Espero que ele seja publicado no próximo ano. Por agora estamos intitulando-o O Jardim, A Rosa e o Rouxinol.■


Site do autor: www.rooftopsoftehran.com  

A minha crítica a Terraços de Teerão.

Nota: A entrevista foi realizada via e-mail.

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