sexta-feira, 23 de setembro de 2016

«A Terapeuta», de Gaspar Hernàndez

Editora: Marcador
Data de publicação: 18/08/2016
N.º de páginas: 232


Barcelona, 2012. Hèctor Amat, de 44 anos, é actor há mais de vinte anos. É maioritariamente em peças de teatro que os seus desempenhos brilhantes são reconhecidos pela crítica e pelos fãs. Numa noite, após o descer das cortinas de mais um espectáculo — a personagem que ele interpreta no Teatro é a de um psicólogo que abandona a carreira depois de se apaixonar por uma paciente —, ao contrário dos seus colegas de cena que vão para os bares se embebedar, ele vai directo para casa. É ao chegar ao estacionamento onde deixara o seu carro, que Hèctor presencia uma cena tenebrosa: uma jovem a ser baleada à queima-roupa. Os minutos que se seguiram a esse acontecimento foram completamente esquecidos pelo actor catalão. A amnésia é uma forma de o cérebro, após processar momentos críticos, se autoproteger. Foi este o caso. Ele sente-se desamparado perante a realidade.
Uma psicóloga que estava de plantão nas urgências hospitalares é destacada para o local do homicídio, e é a primeira pessoa que dá apoio a Hèctor, e será nos dias seguintes a sua única confidente. Em pouco tempo é criada entre Eugènia Llort e Hèctor Amat uma relacção de empatia fora do normal que faz com que a ansiedade que despoletou no actor de forma alectrizante no decorrer da tragédia, seja suportada. Mas o quiproquó desta trama é que a psicoterapeuta não consegue se distanciar afectivamente dos pacientes, o que já se revelara anteriormente um problema quando começara a exercer a profissão. Ela costumava se apaixonar por homens a quem tinha de salvar…
A Terapeuta, traduzido por Rita Custódio e Àlex Tarradellas, é um livro que aborda o impacto psicológico que têm determinados acontecimentos e enfatiza a vulnerabilidade do Homem perante circunstâncias inesperadas. O medo e a ansiedade existem em cada ser humano a um nível variado em função das circunstâncias, mas quando eles são permanentes e levam-nos a privar de determinadas situações do quotidiano, temos de encara-los como patologias. A ansiedade do protagonista deste romance não apareceu de um momento para o outro; o autor, desde o início da história vai dando sinais ao leitor de que a sua índole sempre fora propensa à ansiedade — sempre fora uma pessoa perfeccionista, por exemplo.
Este romance psicológico, género literário que explora o funcionamento da mente humana, onde a ansiedade pode-se dizer é uma das personagens/protagonistas, aborda questões delicadas como ética e obsessão, e informa o leitor leigo em matéria de psicologia, o significado de termos como "contágio", "transferência" e "contratransferência". Para tecer esta obra, Gaspar Hernàndez (n. 1971), autor de obras como Mandra (2002) e El silencio (2009), revelou recentemente numa entrevista que falou com cerca de cinquenta psicólogos. O resultado é um livro que faz o leitor ansiar pelo desfecho final.


Citação
«Um paciente abre a sua mente, olhas lá para dentro e esqueces-te dele até à próxima consulta. E a questão é que não te tinhas dado conta de que aquela mente estava no limite.» (p. 216)

Sem comentários: