sábado, 2 de setembro de 2017

«A Mulher do Camarote 10», de Ruth Ware

Editora: Clube do Autor
Data de publicação: 05/07/2017
N.º de páginas: 344
Depois do seu livro de estreia, Numa Floresta Muita Escura (Abril, 2016), a Clube de Autor publicou no início de Julho o novo romance de Ruth Ware, escritora inglesa que segundo o Guardian é considerada a Agatha Christie do século XXI — um elogio arrebatador para uma autora que apresenta o seu segundo trabalho no panorama dos tríleres de crime psicológico.
Traduzido por Eugénia Antunes a partir de The Woman in Cabin 10, esta nova história remete o leitor para a actualidade londrina e norueguesa. Quem nos narra todos os acontecimentos da trama é Laura (Lo) Blacklock, uma jornalista de viagens de 32 anos, que fica incumbida de fazer a cobertura da viagem inaugural de um pequeno mas luxuoso barco. Todavia, devido a dois acontecimentos (a sua casa é assaltada e ela tem uma discussão com Judah, o namorado) que antecedem a esse seu novo desafio profissional, a sua ansiedade dispara exponencialmente, fazendo com que o seu estado anímico e psicológico fique destabilizado.
Já em pleno cruzeiro, a bordo do Aurora Borealis, com apenas 10 camarotes, Lo auspicia que essa viagem não seja apenas de trabalho; idealiza recuperar energias e relaxar. Mas logo na primeira noite, estando no seu camarote, ela acorda sobressaltada devido ao som estridente de alguém ou algo a ser lançado ao mar. Lo ao abrir a portada, repara que na balaustrada da varanda anexa, a do camarote n.º 10, há pingos de sangue. Depois de reportar o sucedido ao chefe de segurança do barco, este informa que não há justificação para iniciar uma investigação policial, e aconselha-a a descansar um pouco. Pelos vistos, o excesso de álcool que bebeu ao jantar e o seu histórico médico depressivo não jogam a seu favor, e ninguém acredita no que ela diz, principalmente que pediu nessa tarde um rímel emprestado a uma rapariga que estava nesse camarote. «Há um assassino neste barco. E ninguém sabe disso a não ser eu», diz, e acrescenta: «Se a história vier a público, o futuro do Aurora não será muito risonho.»
Quem é afinal a mulher do camarore 10? A amante de algum dos magnatas que estão a bordo? Alguém que tentava sair do país clandestinamente? Ou será que tudo será fruto da mente «neurótica» de Laura Blacklock? Estas interrogações permanecem em supense até ao virar da última página.
A primeira impressão que ficamos sobre A Mulher do Camarote 10 após lermos a sua sinopse é a de que a história tem grande potencial para captar bons momentos de leitura — crimes em alto mar, em cruzeiros, não são assim tão vulgares em romances psicológicos. Após folheadas as primeiras páginas, é notório o talento de que Ruth Ware em tecer um bom início de trama e apresentar uma personagem principal tão complexa. É através de pequenos laivos de prolepses — um recurso narrativo que funciona bem neste romance — ao longo dos capítulos que a autora vai desvendando e criando mais suspense no leitor, fazendo com que este auspicie chegar ao epílogo o quanto antes. A verdade é que a parte final revela-se muito intensa e surpreendente.
A Mulher do Camarote 10, que já se sabe que vai ser adaptado para cinema em breve, é uma leitura que recomenda-se para quem é seguidor deste género de livros. Em relação à comparação que os média têm feito de o estilo literário de Ruth Ware ser idêntico ao de Agatha Christie, esse paralelo revela-se infundamentado — quem leu mais de 30 policiais da ‘Rainha do Crime’ tem a obrigação de refutar esta comparação inusitada e desnecessária em termos de marketing.
De referir também que a equipa de design da Editora Clube de Leitor podia estar mais em sintonia com o editor que ficou encarregue deste título, pois a imagem do grande navio que vem na capa não corresponde ao pequeno barco que é descrito no romance.

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